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Para alguns vizinhos, horror, para outros, desce redondo

Carnaval de Rua da Cidade Baixa. Foto: João Mattos
Carnaval de Rua da Cidade Baixa – esquina da avenida Lima e Silva com a Rua da República. Foto: João Mattos

Assim é o polêmico Carnaval de Rua na Cidade Baixa. Não poderia ser diferente com um evento organizado pela Cervejaria Ambev com o nome de Nordestão Skol, na Rua da República. Em grupos de WhatsApp de vizinhos, houve  reclamações por causa da interdição da via, do barulho, da impossibilidade de se estacionar nas próprias garagens e da sujeira nas calçadas.

É o caso de Alexandra Canseco. Moradora da República desde 1984, exige: “Quero saber quem autorizou esta baderna desde o meio-dia de sexta-feira até a noite de hoje.” Para ela, a maior dificuldade foi a impossibilidade de chegar em casa. “Abri dois protocolos no 156. Além disso, tive de lavar a minha calçada, que amanheceu suja e cheia de urina”, reclama.

Segundo ela, que diz ter participado de várias reuniões com o Ministério Público, integrantes da Prefeitura e da Brigada Militar, sobre a organização do Carnaval 2018, o evento da cervejaria não estava no acordo firmado entre produtores culturais e moradores.

Brigada Militar

O tenente-coronel Eduardo Amorim, comandante do 9º BPM, que é responsável pela segurança da região, afirma que também não recebeu comunicado sobre o evento da cervejaria.

“A BM não foi avisada, assim como não o foi sobre a mudança de itinerário do desfile ocorrido ontem.”

Para a Relações Públicas, Andressa Duarte, 30 anos, o evento é legal por ser em época de Carnaval. Moradora da República, em frente ao palco da Skol, ela afirma que, no entanto, faltou relacionamento da Skol com os moradores. “Não recebi nenhum comunicado. O proprietário do nosso prédio sempre nos avisa de tudo. Acredito que ele não tenha recebido também.”

Montagem do espaço. Foto João Mattos

A RP informa que ficou sabendo da ação na sexta-feira pela manhã, quando saiu de casa e viu as equipes trabalhando na montagem. “Perguntei o que teria aqui e fiquei sabendo do evento.”

Segundo Andressa, dentro do seu apartamento, o volume da música do palco é superalto. “Não consigo falar com ninguém lá. Para sair na rua é muito complicado, porque o trânsito não é livre. Demora até 15 minutos para eu chegar caminhando ao Zaffari, que é aqui pertinho.”

Mas ressalva que a música sempre finaliza no horário programado. “O problema é que ainda tem o pessoal que fica na rua e coloca som nos bares e calçadas. Esta noite, o barulho foi até às 2h.” Prevê que a próxima será outra noite mal-dormida. Ela reforça que o evento em si é muito bacana. “O maior problema são as pessoas, a quem falta educação”, finaliza.

Para outro morador da República, o enfermeiro e professor Uiasser Thomas Franzmann, o principal questionamento é que, para realizar o Carnaval de Rua na CB, houve várias negociações e reuniões. Foram colocadas condições aos blocos. “Aí a Skol, que até onde sei, não participou destas discussões, faz um evento aqui, no período do Carnaval, bloqueando uma via pública de forma “privada”. Isso pode?” Ele pergunta se a Skol cumpriu com as mesmas condições dos blocos. “Por que não foi incluída no calendário oficial do Carnaval?”

Assessoria

Em retorno à nossa equipe, a assessoria de imprensa da Skol enviou este comunicado: “O evento da Cervejaria Ambev, realizado com a produtora Austral, tem autorização da Prefeitura Municipal e da EPTC para realização do evento. A estrutura conta com apoio de segurança e atendimento médico para resguardar os foliões e moradores. O processo público que deu origem ao termo de compromisso é o de número 18.0.000006835-3 e pode ser acessado por qualquer cidadão no portal da Prefeitura.”

Já o coordenador do Escritório de Eventos do Município, Antônio Gornatti, explica que, pelo primeiro ano, a Prefeitura não despendeu verba para o Carnaval. “Saímos em busca de patrocinadores. A Skol está bancando os blocos de Carnaval. Prontificou-se a fazer toda a limpeza e lavagem do bairro.” Por isso, houve a sessão do espaço.

Foi uma contrapartida da Prefeitura para a lavagem de seis dias de desfile da Cidade Baixa. 

Garagem

Ainda assim, o acesso de veículos locais foi mantido pela inversão da Sofia Veloso e da própria República, pela avenida João Pessoa. “A produtora Austral, responsável pela ação, contatou os moradores disponibilizando garagem na quadra ao lado. Hospedaram em hotéis moradores, gatos e cães que não poderiam ficar ali”, conta Gornatti.

O palco da Skol será desmontado até as 3h da madrugada desta segunda-feira, com o comprometimento da produtora de fazerem pouco barulho. “Qualquer evento em espaço público tem um impacto violento. Nunca se terá todos contentes. Ontem eu via moradores montando camarotes nas sacadas, brincando.”
Foto: João Mattos

Entretanto, o coordenador afirma que as ruas da CB não são o melhor espaço para o Carnaval. “É importante que moradores se organizem e compareçam às reuniões.

Quem assinou pelos moradores foi o senhor Hermógenes. Ele, inclusive, foi o responsável para baixar o número de datas para seis desfiles de rua na CB.” Para Gornatti, a melhor saída é se criar uma excelente estrutura na orla para receber foliões e também outras festas ao longo do ano.

Dispersão 

Os blocos cumpriram os horários, mas as pessoas não vão para as suas casas. “A dispersão não pode ser forçada. A nossa equipe não conseguiu entrar para fazer a limpeza. Teve de entrar quase 7h porque o público não saía.”, diz Gornatti.

Ele acredita que os dias mais críticos já passaram. “A maneira como estamos tentando dispersar o público é com o carro-pipa entrando para fazer a limpeza.” Mas afirma que não foi possível realizar a operação nos primeiros dias por causa da grande aglomeração de pessoas.

Quanto à reclamação de excesso de lixo nas calçadas, segundo ele, a geração de resíduos é natural de grandes eventos. Ele lembra que, em abril, terá a primeira reunião sobre o Carnaval de 2019. “É importante que os moradores compareçam para definir os locais e pontuar o que não foi adequado nesta edição.”

Organização

Já o morador da rua há 14 anos e empresário, Marcelo Marcello, 32 anos, parabeniza a Skol pela organização do evento. “A estrutura foi maravilhosa. Tudo muito organizado.” Ele também ressaltou a presença de Gornatti conversando com os moradores. “Ele esteve presente com crachá, uma equipe, perguntando se tudo estava bem.”

Marcello. Foto de João Mattos

Marcello mostra a correspondência que recebeu da produtora que organizou a ação. “Veio esta carta da Skol informando as datas de bloqueio da via e liberação da mesma. Nosso vizinhos que têm veículos ganharam um tíquete para usar na garagem do outro lado da Lima e Silva.” Também conta que, animais do prédio dele foram enviados a um hotel de pets para evitar o estresse pelo barulho. “Tudo pago pela Cervejaria.”

Para o empresário, os blocos itinerantes é que trazem sujeira às ruas. Integrante do Bloco Puxa que é Peruca, Marcello afirma que, pela primeira vez, o Carnaval de Porto Alegre está tendo a proporção que merece. Mas ainda falta conscientização do público.

Susana. Foto: João Mattos

Susana de Bastos, moradora há 25 anos da frente de onde foi montado o palco da Skol, tece diversos elogios. “Sou dona do bar Bahamas Cidade Baixa e trabalho com a Polar.”

Ela diz que só tem que parabenizar. “Eles fizeram um evento extremamente organizado. Cadastravam as pessoas porque menor de idade não entrava, mas todos aguardaram pacientemente.” Segundo ela, que fechou seu estabelecimento às 2h, não houve briga nem arruaças.

Morador da República e trabalhador do bairro, o sergipano Silvanio Santos Silva, diz que fica muito feliz de ver uma empresa realizar um evento “tão legal” em frente ao seu prédio. “Achei muito divertido.”

Segundo ele, a festa terminou às 21h, com muito respeito aos vizinhos. “Parecia coisa de outro mundo.”

Atração

No próximo sábado, dia 10, a estrutura Nordestão Skol será montada novamente na Cidade Baixa, mas em outro ponto: próximo ao Teatro de Câmara Túlio Piva, também na Rua da República. A atração é aberta ao público e gratuita das 15h às 20h, para maiores de 18 anos. Por isso, é necessário apresentar um documento de identidade para participar.

O ventilador gigante fica dentro de um espaço com bar temático, DJ, local para fotos e distribuição de brindes, entre eles bastões infláveis e estandartes. Depois do Carnaval, no dia 18 de fevereiro, a atração será instalada na Orla do Guaíba, na Avenida Edvaldo Pereira Paiva, próximo à pista de skate do Parque Marinha do Brasil.

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6 Comentáriospara este Post

  1. carlos lima

    infelizmente nao vi nada do que falaste….ontem passamos momentos de terror aqui na travessa, na dispersao dos blocos foi um caos total….desespero….perto da esquina da republica, tres imbecis, tentando e assediando uma garota alcoolizada, eu mais duas pessoas chegamos e c onseguimos afasta los, porem antes disto me ameaçaram…..uma amiga que ficou trancada no outro lado da sarmento leite, foi assediadas, bem como duas garotas de 13 e 14 foram apalpadas, assediadas….pessoas defecavam nas calçadas e urinavam mostrando a genitalia pra todos, urinavam nos halls dos predios , chegou uma mulher desesperada de carro em frente ao meu predio , depois de ter o carro chutado, uns caras resolveram urinar na frente do meu predio , quando fui reclamar fui ameaçado, urinando nos carros e dando risada….fui um caos hoje de manha passou um carro com jato e jogou toda sujeira para dentro do predio e um produto quimico detonou com a pintura da garagem, as 22:30 tive que sair para comprar remedio , quando passei pela lima e silva, parecia um cenario de guerra, urina , fezes , etc…..nao da para entender esta tal organizaçao, skol, donos de bar, tudo bem tao ganhando e as pessoas que moram aqui como ficam?
    sou a favor que cidade baixxa seja polo de protestos, manifestaçoes culturais, politicas, aqui mesmo temos as feirinhas e rodas de samba aos sabados , bacana, legal, agora esta do carnaval me desculpa, nao sei da onde é o teu jornal e esta associaçao nao tenho a minima noçao de como reune e onde reune, nos aqui da travessa nao vamos aceitar este descaso, por favor vamos organizar , que os vizinhos sejam ouvidos, organizados, nao so skol e bares , quero uma cidade baixa com cidadania e liberdade…..viva mas consciente e cada vez melhor.

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    • Carla Santos

      Oi, Carlos, tudo bem? Quando a nossa equipe foi entrevistar os vizinhos, motivada por reclamações no grupo de whats, somente dois moradores se manifestaram contrários ao evento. Chamamos no grupo para a entrevista. Ficamos mais de 3 horas ali, esperando manifestações e abordando diversos moradores que passavam. Os relatos que ouvimos estão na matéria. O jornal se propõe a ser a Voz da Vizinhança, portanto, sempre que quiser sugerir pautas, fique à vontade, serão bem-vindas. Nossas matérias são baseadas nas sugestões que nos chegam por email: carlasantosweb@gmail.com ou pelo Whats 98442-7727. Que, juntos, possamos transformar esta na melhor região para se viver! Abraço.

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    • Hermogenes Oliveira

      Esclarecendo. Quem faz a baderna na Cidade Baixa, e o proprio povo…nao generalizando.
      E isto nao e so no periodo de carnaval, mas sim o ano inteiro.
      Falta de educaçao – isto e pacifico.
      O evento da Skol foi produzido pela empresa AUSTRAL, e tinha alvara, licenças e PPCI.
      Comunicados foram distribuidos com antecedencia aos moradores da area utilizada. Foi oferecido estacionamento, hospedagem para moradores e tambem para seus pets.
      O fato da falta de educaçao, so pode ser atribuida a quem manifesta tal comportamento.
      De fato, o bairro ja nao suporta a dimensao do evento. A estrutura montada estava organizada, porem a Cidade Baixa, nao tem estrutura fisica para suportar.
      A associaçao dos moradores trabalha com dificuldades, sem verba. Conseguiu a reducao de 20 datas desde 2014/15 para 6 datas 2016/17/18.
      Buscamos levar para a Orla o carnaval.
      Respeito com a associaçao…ela nao faz magica tampouco milagres. Nos reunimos onde podemos e divulgamos.
      Nao se pode agradar a gregos e troianos.

      Continua a luta!

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  2. eloiza duarte

    Como moradora, posso dizer, sem pensar duas vezes:
    Pessimo evento e atitude da skol para criar algo tão egoísta e idiota.
    Cachorros morrendo de medo, moradores ilhados em suas casas, sem saber o que fazer. e o pior, quando fomos descer para ver o motivo de toda algazarra e tentar conversar com um dos organizadores, descobrimos que o evento todo era só por causa de um ventilador que mal girava.
    eu e meu marido não conseguimos aproveitar esse feriado devido a esta confusão feita pela skol e se pudermos dar um conselho para eles é: deixa o nordestão no literal, onde é o lugar dele. e se for pra gastar dinheiro com algo nesse carnaval, que seja ajudando o bairro, com mais lixeiras e luz, deixando ele mais redondo durante o carnaval, de verdade.

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  3. Ricardo Pereira

    Esta matéria foi feita na Ilha da Fantasia, os moradores furiosos com o desrespeito demonstrado pela Skol está Carla Santos só encontrou gente para elogiar. Todos comerciantes: só que patrocina tem voz! Lamentável!

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    • Carla Santos

      Oi, Ricardo Pereira. A matéria foi realizada na calçada próxima ao evento (República, quase Lima e Silva). Ficamos mais de três horas no local. A pauta surgiu de reclamação de moradores no grupo Voz da Vizinhança. Parei diversas pessoas, inclusive idosas, e não reclamaram do evento. Somente os citados na matéria compareceram para reclamar. Os outros elogiaram. Jornalismo é isso. Sair para uma pauta e voltar com o retorno dos entrevistados. Não com o que o repórter quer ou gostaria de colocar. Para seu conhecimento, nenhum dos ouvidos é patrocinador do jornal. Mesmo que fosse, nosso jornalismo é independente. Portanto, publicaríamos o que os entrevistados nos dizem. Se o senhor quiser fazer parte do grupo de whats ou nos sugerir pautas, estamos abertos a sugestões. Grata.

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