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Conquistado pela arte
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Ver Galeria (10 imagens)O silêncio é quebrado pelo toc-toc-toc do formão esculpindo a peça de madeira que há de se transformar em uma obra de arte pelas mãos de Pedro Pires de Lima. O artista entrega poucas das suas criações ao mundo. “Tem peça minha em algumas casas aqui em Porto Alegre e em Pelotas; uma santa na igreja de Bagé; um Buda no Templo Budista, em Três Coroas; outras em Goiânia; no Rio de Janeiro e na China.”
Conforme a peça vai tomando forma, Lima apega-se a ela. “É difícil se desfazer. São como filhos”, descreve o menino de 80 anos, que começou a esculpir aos 12, de forma autodidata. Toca emocionado o peito e diz: “Cada uma fica aqui dentro.” Enquanto vai cruzando a casa, apresenta as suas criações. Difícil mesmo é dizer qual encanta mais os olhos do visitante.
Pela profissão de construtor, herdada do pai – assim como a bancada de trabalho que já conta 65 anos -, ainda criança, Lima trabalhava na empresa paterna, que ergueu grandes prédios históricos em Pelotas, como o do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e casas do Beco da Vaidade. Com trabalho duro conquistou seu espaço: foi servente, pedreiro, empreiteiro e diretor da empresa. O que lhe rendeu grandes alegrias.
A dificuldade que a vida lhe reservara foi descobrir, há 18 anos, que tinha um câncer na boca, para o qual perdeu parte da língua e gengiva. “Eu me sentia um gigante, com muito potencial de trabalho e, devido à cirurgia e tratamento, tive de me afastar da empresa.” Mas, em quatro meses, estava esculpindo novamente. A força? Veio da esposa, Cirlecy (com quem é casado há 41 anos) e do restante da família.
Além da madeira, Lima usa bronze como matéria-prima. A inspiração vem de qualquer cena que desperte nele interesse. Pode ser uma grávida escorada na parede, uma mancha de tinta no chão, um desenho em uma toalha.
Ele disse que a memória registra a cena e ele a desenha de perfil e de frente, no tamanho em que será feita. “Quando o desenho termina, está pronta a peça. Porque ficou pronta aqui”, diz indicando a fronte.
Escultura e casamento duradouro tem ingrediente comum: muito amor, diz Lima. “Além disso, é preciso encontrar a pessoa certa, ter respeito e ver no outro seus predicados bons, algo de divino, que todos nós temos.” Enquanto houver belas cenas, ele segue transformando o cotidiano em arte.
Fotos: João Mattos
Texto: Carla Santos
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